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Minha História de Leitura

Meu pai e minha família. Meu pai me deu uma formação oral, lúdica e sempre lastreada pelo humor. Este pescador analfabeto me deu as maiores e melhores imagens da minha vida. Num poema: "Nunca se formou nas letras / acumulou risos / contou piadas / foi mestre na vida / foi guia dos mares / doutor das  histórias / senhor das estrelas". Ao lado dele está a minha família, que, sendo grande, múltipla e complexa,  me tornou observadora de mim mesma, dos outros e das personagens que o meu imaginário tinha agora a obrigação de inventar.

 

Meu espírito crítico e inquieto. Desde criança ninguém conseguia me convencer de que o problema existencial estaria resolvido. Isso me levou a procurar os livros. Depois, a escrita. Vindo de uma família grande e uma casa cheia, a madrugada era o único horário em que se podia ficar sozinho; ali, na varanda da casa, eu escrevia. Apaixonei-me por ela: não pela escrita, mas pelo silêncio que a madrugada nos oferece, pela possibilidade de eu estar em minha própria companhia. A escrita, esta sempre me pareceu uma coisa cansativa. Mas existe em nós uma premissa sobre nós mesmos que nunca saberemos formular. Escrever é apenas essa tentativa inútil e finita.

A mudança da minha família. Mudamos para Zona Oeste – Realengo. Encontrei amigos. Nos saraus descobri críticos, filósofos, poetas, músicos, humoristas. Não apenas os que estavam perdidos numa foto amarelada do século XIX. Mas pessoas como eu, de carne e osso. Imediatamente, concluí que aquele sarau parecia a varanda da minha casa, só que mais rico, permeado de leituras, vozes, opiniões, paixões e crenças que divergiam das minhas.

As faculdades. A faculdade de Administração de Empresas fez de mim uma pessoa altamente realista e prática. Quase endureceu meu espírito lúdico. Ter participado da vida dos meus sobrinhos (e tantos) e, mais tarde, a profissão durante dez anos na indústria,  área de RH libertou-me. Mais tarde, a faculdade de Literatura potencializou em mim o espírito crítico e o senso histórico. A vida era difícil, mas eu queria cada vez mais fazer parte daquele universo literário. Isso porque os professores eram altamente qualificados e impregnavam-nos de valor intelectual e afetivo de proporção quase mágica. 

Meu marido. Aqui eu descobri um novo sarau, parecido com as solidões da minha varanda, parecido com os de Realengo. Mas feito de dois. Nas vozes havia as diversas linguagens. O espírito criativo passou a ser um amigo que entra com a gente no trem e come da mesma mesa. Tomada de assalto na fruição de livros e leituras que minha existência ainda desconhecia, idealizamos nossa Belle Époque. Originalidade e criação coadunados.  

Assim, a vida que transita entre Intra e Trans se reafirma na universalidade que me foi dada antes do conceito acadêmico: o universal é antes de tudo o particular; são as psicologias de personagens reais, ou imaginários que dramatizamos em nós mesmos. É tudo aquilo que nossa história de leitura nos permite ver, ouvir e sentir.

Eu sou o problema da existência. Eu não tenho problema existencial.

Eu sou a História das minhas leituras.

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© 2017 por Shirleny Luz. Orgulhosamente criado com Wix.com

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